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Uma espetacular Kirsten Dunst interpreta uma fotojornalista cínica documentando o fim da democracia como a conhecemos, no que promete ser um dos filmes mais controversos do ano.

Em Guerra Civil, de Alex Garland, a imprensa é tanto a heroína quanto a vilã nesta conturbada visão de como poderia ser uma futura ruptura social nos Estados Unidos, vista pelo olhar aguçado de quem está no campo de batalha. Projetado como um alerta, este thriller — que começa devagar e cresce até uma invasão surpreendente a Washington, D.C. — coloca o espectador ao lado de uma equipe dedicada de jornalistas a caminho do Capitólio, enquanto o país se desfaz ao redor deles. É a visão distópica mais perturbadora até agora, desde a sua célebre ficção científica que exterminou toda Londres com a revolta zumbi em Extermínio, uma visão que não pode ser facilmente consumida como entretenimento. Um choque provocativo ao sistema, Guerra Civil é feito para dividir. Ironicamente, também pretende unir as pessoas.

Guerra Civil







Imprensa isenta e imparcial?

Liderada pela veterana fotógrafa de guerra Lee Smith (Kirsten Dunst), a equipe de jornalistas é composta por profissionais exemplares e eticos. Eles representam, de uma forma perturbadora, o desapego essencial para os profissionais da imprensa, quase desumanos, enquanto se esforçam para não tomar partido (o que por si só é uma crítica), mas será que eles conseguem? Os veículos de notícias prosperam em conflitos, isso vende jornais e impulsiona a audiência, trabalhando o medo em torno de possibilidades que despertam o pânico. Garland não se preocupa com como isso aconteceu. Seu roteiro pula os motivos que iniciaram o conflito, oferecendo apenas a noção questionável de que Texas e Califórnia se separaram e posteriormente uniram forças (chamando-se “as Forças Ocidentais”) contra um presidente ávido por poder em seu terceiro mandato (Nick Offerman).

Guerra Civil

Embora pareça mais uma entrada no popular gênero de thriller pós-apocalíptico, não se engane: Guerra Civil retrata o próprio apocalipse. O país está em completo derretimento, mais no campo da sugestão do que retratado explicitamente. Os americanos se voltaram uns contra os outros, e as únicas pessoas autorizadas a se mover livremente por espaços de fogo ativo são as que têm PRESS (IMPRENSA) estampado em seus coletes à prova de balas. Garland estabelece o caos logo cedo, enquanto Lee cobre uma cena de tumulto onde civis, reduzidos a refugiados em seu próprio país, clamam por água. De repente, uma mulher entra correndo com uma bandeira americana e uma mochila cheia de explosivos presa ao peito.







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Conflito viceral em Guerra Civil 

Como a explosão na cafeteria em Filhos da Esperança, de Alfonso Cuarón, a explosão em estilo vérité nos deixa em alerta — embora o mundo mais amplo talvez nunca testemunhasse isso, não fosse por Lee, que pega sua câmera e começa a documentar o massacre. Segundos antes, ela havia puxado uma jovem admiradora, Jessie (“Priscilla“, estrelada por Cailee Spaeny), para a segurança, salvando a vida dessa novata. Jessie sonha em ser fotógrafa de guerra, embora trabalhe com filme em preto e branco — uma artista jovem em contraste com a fotógrafa experiente que é Lee. A novata ambiciosa convence Lee a levá-la em sua próxima missão, dirigindo com o repórter Joel (Wagner Moura) e o veterano jornalista político Sammy (Stephen McKinley Henderson) para Washington para entrevistar o presidente — três gerações de jornalistas com visões de mundo muito diferentes.

Guerra Civil é uma história de advertência, um alerta que reutiliza o tipo de imagens que o público viu em zonas de guerra — dissidentes pendurados em pontes, cadáveres cobertos de cal empilhados em valas comuns — tudo isso em cenários familiares, totalmente americanos.

É chocante, para dizer o mínimo. Ainda assim, Lee já viu pior em sua vida. Se algum dia ela conheceu a empatia, Lee agora parece estar acima de qualquer sensibilização da realidade, focada apenas em documentar os fatos. Quando Jessie pergunta a seu ídolo o que ela faria se Jessie estivesse morrendo, Lee olha friamente de volta e diz: “O que você acha?” Ela tiraria a foto, é claro.

O público nunca viu Dunst assim. Ela parecia áspera em Ataque dos Cães, mas aqui, cobrindo conflitos ela extrai o sumo da sua essência. (A atriz apareceu radiante na estreia do filme no SXSW, sublinhando a transformação que ela empreendeu para um papel onde a resiliência e o instinto puro, alimentado por adrenalina, sobrepõem-se ao cuidado básico de si mesma.) Garland dá à personagem várias oportunidades de se reconectar com sua humanidade, mesmo enquanto essa tensa e cada vez mais brutal viagem de carro empurra a equipe mais para dentro do coração das trevas. A maior parte do filme acontece à luz do dia, não é de todo a estética que o público espera de um filme de guerra moderno, que normalmente usa filtros estratégicos para fazer tudo parecer granulado.

Guerra Civil

Ficção ou realidade?

Guerra Civil pode se desenrolar em uma dimensão paralela, mas parece muito com a América que conhecemos. Às vezes, em meio à confusão, os personagens não conseguem distinguir entre rebeldes e patriotas — como em uma cena em uma atração ao ar livre, onde soldados tentam eliminar um atirador. Nessa situação, pouco importa de que lado ele está. Mais tarde, Jessie Plemons aparece vestindo um uniforme de camuflagem e óculos de sol em forma de coração, apontando sua arma para os jornalistas desarmados. “Que tipo de americano você é?” ele exige de cada um deles. No clima político de hoje, alguns fazem perguntas semelhantes, com um subtexto igualmente intimidador.







Nesse ponto, o filme se inclina para o terror completo. De fato, a reta final parece mais algo saído de Stephen King (“O Nevoeiro” ou “A Dança da Morte“) do que qualquer filme de guerra que veio antes, enquanto o pequeno grupo de jornalistas acompanha as Forças Ocidentais em sua grande caminhada para Washington. Embora Garland tenha mostrado Offerman preparando um discurso como presidente no início, ele semeou dúvidas na sinceridade do homem, intercalando tumultos do mundo real com as palavras do comandante em chefe. Mesmo assim, certamente nenhum americano quer ver o que vem a seguir, enquanto Jessie e Lee acompanham tropas que tentam encontrar um caminho para dentro da Casa Branca.

Quem viu o filme anterior de Garland, o surto apoiado pela A24,Men: Faces do Medo“, sabe que o diretor não se esquiva de levar as coisas ao seu extremo mais nauseante. Guerra Civil não é diferente. Garland abusa de imagens desencadeadoras, não apenas de crimes de guerra dos próprios jornalistas que, longe de neutros, quase encorajando atos que fazem o 6 de janeiro (ou o 8 de janeiro) parecer leves. Enquanto isso, ambiguidades em torno das origens do conflito significam que não há maneira de desarmar o que estamos assistindo. Sem ser visto, Guerra Civil foi criticado por explorar tensões em um ano eleitoral, quando, na verdade, é destinado a ilustrar a futilidade dos lados. Garland é a última pessoa a sugerir um abraço coletivo. Suas declarações no filme vão repetindo a pergunta: Afinal, podemos todos nos dar bem?

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